Ainda pesquisando
sobre audiodescrição encontrei estes textos que considerei muito interessante
AUDIODESCRIÇÃO EM SALA DE RECURSOS MULTIFUNCIONAIS
A audiodescrição é uma técnica usada para
descrever imagens, com a finalidade de proporcionar as pessoas com deficiência
visual uma melhor ou ampla compreensão do contexto que estão presenciando.
Por exemplo, quando se conta uma história infantil para
uma criança DV (deficiente visual), deve-se ler o texto e depois descrever com
objetividade as figuras, desenhos, fotos, ou seja, as imagens nela contidas.
Deve-se
ter cuidado nessa descrição para que as figuras de primeiro plano sejam bem
retratadas, e não se detalhe demais as imagens para não confundir o ouvinte. O
"descritor"( grifo meu), precisa ter a sensibilidade de relatar as
cenas de forma precisa e muito objetiva. Isso vale para todo tipo de testo com
ilustração.
Alguns
estudiosos preferem relatar primeiro as imagens e depois o texto. Porém, na
opinião de alguns alunos com deficiência visual, eles compreendem melhor se o
texto for lido antes da descrição das cenas. O professor deve, contudo,
combinar com o ouvinte o que ele prefere.
Fonte:
Sala de Recursos Multifuncionais.
BLOG DA AUDIODESCRIÇÃO
UMA
TECNOLOGIA ASSISTIVA A SERVIÇO DA INCLUSÃO SOCIAL
A
despeito de muito já se ter produzido em termos de literatura acerca da
inclusão social e das várias práticas que a representam, seja na escola ou em
outros lócus, não é exaustivo se defender que a inclusão se efetiva na prática,
no fazer cotidiano, na ocupação
com as mudanças sociais necessárias, em lugar da mera preocupação, e na crença de que cada pessoa em situação de
aprendizagem, seja ela com deficiência ou não, vem requerer de nós educadores
um olhar sempre consciente e esvaziado, pronto a preencher-se diante de novos
desafios.
E
quando a atenção recai sobre a formação escolar de pessoas com deficiência, o
ato de se perceber educador e, portanto, responsável pelo planejamento das
possibilidades de inclusão escolar consiste em tarefa permanente, passando a
demandar do docente uma atitude que envolve flexibilidade e conhecimento, na
busca pela promoção das acessibilidades que conduzirão o educando com
deficiência às reais oportunidades de inserção no contexto da escola regular e,
a partir dele, na vida social, em prol do melhor desenvolvimento de suas
potencialidades.
Nesse
sentido, entendemos como possibilidades reais de inclusão escolar aquelas em
que se privilegiam atitudes pedagógicas e relações interpessoais pautadas na
ética entre educador e educando. Nas quais se estabelece uma convivência
harmoniosa ditada pelo respeito a todas as pessoas, pelo simples fato de serem
pessoas humanas.
Corroborando
com essa visão, Almeida (2004, p.82) defende que uma prática docente pautada
pelo respeito ao educando pressupõe:
§
aceitá-lo no ponto em que está, o que significa conhecê-lo em sua etapa de
formação e conhecer os meios em que se desenvolve;
§
não impor limites a seu desenvolvimento;
§
oferecer outros meios e grupos para que ele possa desenvolver suas ações;
§
aceitar que a educação é uma relação evolutiva, que vai se transformando e
tende para a autonomia, para o ponto em que o aluno não precisa mais do
professor.
Assim,
entendemos que o educador comprometido com uma prática inclusiva, que respeita
e valoriza seus educandos e, consequentemente, suas características humanas, faz
da ação docente uma busca constante pela promoção das acessibilidades que
diluirão as possíveis barreiras limitantes ou impeditivas do pleno
desenvolvimento das pessoas com deficiência.
Na
busca pela promoção dessas acessibilidades, torna-se, pois, fundamental pensar
a prática pedagógica a partir da perspectiva do desenho universal, com base no
qual o educador inclusivo atenta para a construção e execução de propostas
educacionais que considerem as demandas da diversidade humana como
justificativas suficientes para a utilização de recursos e serviços alinhados
com as necessidades de seu público.
Com
o propósito de instrumentalizar o docente no sentido de respeitar os educandos
com deficiência, oferecendo-lhes situações de aprendizagem que verdadeiramente
reflitam a adoção de práticas e atitudes inclusivas, acreditamos que o educador
deve incorporar ao seu fazer pedagógico o uso de tecnologias assistivas.
De
acordo com Bersch e Tonolli, considera-se tecnologia assistiva:
"todo
o arsenal de Recursos e Serviços que contribuem para proporcionar ou ampliar
habilidades funcionais de pessoas com deficiência e, consequentemente, promover
Vida Independente e Inclusão".
É
também definida como "uma ampla gama de equipamentos, serviços,
estratégias e práticas concebidas e aplicadas para minorar os problemas
encontrados pelos indivíduos com deficiências".
Nesse
ponto, cabe ressaltar que a escolha e a utilização de tecnologias assistivas
por parte do educador inclusivo devem ser compreendidas como potencializadoras
da ação da pessoa com deficiência, configurando-se muito mais como uma ajuda
técnica que atuará como recurso ou serviço adicional, em prol da equiparação da
igualdade.
Em
outras palavras, significa dizer que, ao se promover o uso de tecnologias
assistivas no contexto social ou escolar, a partir do uso de tais tecnologias,
a pessoa com deficiência poderá executar tarefas, acessar informações,
transitar pelos ambientes etc., sem necessitar arcar com os possíveis prejuízos
oriundos da presença de barreiras.
A
audiodescrição como tecnologia assistiva
Surge,
então, no cenário da tecnologia assistiva, a audiodescrição, que se constitui
como um serviço especializado capaz de promover a acessibilidade comunicacional
de pessoas cegas e com baixa visão, além de contribuir para o acesso à
informação de pessoas disléxicas ou que apresentem outros tipos de transtornos
relacionados à leitura.
A
audiodescrição transita, pois, pelo viés da comunicação, assumindo o papel de
transmissora de informações que, inicialmente, estariam disponíveis apenas no
plano visual, a exemplo de imagens estáticas (tais como fotografias), cenas
dinâmicas (veiculadas no cinema, TV ou teatro), além de textos e legendas
impressas.
Nas
palavras de Mota, a audiodescrição consiste na "...) arte de transformar
aquilo que é visto no que é ouvido".
Para
Lara e Graciela Pozzobon:
"O
recurso consiste na descrição clara e objetiva de todas as informações que
compreendemos visualmente e que não estão contidas nos diálogos, como, por
exemplo, expressões faciais e corporais que comuniquem algo, informações sobre
o ambiente, figurinos, efeitos especiais, mudanças de tempo e espaço, além da
leitura de créditos, títulos e qualquer informação escrita na tela".
Consoante
a Portaria nº 310/2006, a audiodescrição é definida como:
"uma
locução, em língua portuguesa, sobreposta ao som original do programa,
destinada a descrever imagens, sons, textos e demais informações que não
poderiam ser percebidos ou compreendidos por pessoas com deficiência
visual".
Ainda
consoante Mota, as raízes históricas da audiodescrição remontam à década de
1970, nos Estados Unidos, quando o norte-americano Gregory Frazier desenvolveu
estudos que ajudaram a impulsionar a experimentação da técnica no teatro,
estendendo-se à Europa e chegando a alcançar o continente asiático, já
direcionada a seriados de TV e ao próprio cinema. Há, no entanto, registros que
conferem à dra. Margareth Phantiehl e ao seu marido o crédito pela invenção do
serviço de audiodescrição, no ano de 1981.
Já
no Brasil, a utilização da técnica é recente, podendo ser encontrada
primeiramente no cinema, com a exibição do filme "Irmãos de Fé", no
circuito comercial, em 2005. Porém, desde 2003, o festival internacional de
filmes sobre deficiência "Assim Vivemos" vem exibindo filmes audiodescritos.
Os
usos pedagógicos da audiodescrição
Nosso
interesse, no entanto, reside em situar a audiodescrição tomando por base o seu
potencial pedagógico, na condição de técnica ou serviço de promoção da
acessibilidade capaz de permitir ao educador inclusivo, nas mais variadas
situações didáticas desenvolvidas no cotidiano escolar, a construção e narração
de roteiros audiodescritos que possam ilustrar e enriquecer o processo de
ensino/aprendizagem, ao passo que beneficia o educador no planejamento de aulas
inclusivas, voltadas à diversidade dos alunos, e favorece os próprios
educandos, usuários do recurso.
Para
Guedes et al, o uso da audiodescrição no contexto pedagógico também permite às
pessoas disléxicas uma melhor absorção de informações e conhecimentos, uma vez
que as dificuldades relacionadas à leitura, escrita e soletração advindas da
dislexia estariam sendo dribladas em virtude da utilização do recurso sonoro, o
que facilitaria o entendimento das informações contidas nos textos, a partir de
sua escuta.
Com
o propósito de desvelar a potencialidade pedagógica da audiodescrição, os
autores apontam, ainda, algumas ações que podem ser empreendidas pelos
professores da educação básica e replicadas nos demais níveis de escolarização
formal, no sentido de se promover a acessibilidade comunicacional que conduzirá
os educandos com deficiência à desejada inclusão escolar.
Com
ações que envolvem não só o professor, mas também toda a escola e a comunidade
escolar, os educandos com e sem deficiência serão formados com a perspectiva da
inclusão social, ou seja; tendo respeitados os seus direitos de acesso ao
conhecimento formal, à cultura, aos espaços físicos e também à própria
liberdade de expressão e empoderamento, mobilizadores da autonomia e
independência.
Assim,
mediante utilização da audiodescrição como ferramenta de cunho pedagógico, os
educadores inclusivos poderão:
-
minimizar ou eliminar as barreiras presentes nos meios de comunicação que se
interponham ao acesso à educação, tais como aquelas presentes no acesso a
materiais bibliográficos;
-
proporcionar que alunos com deficiência visual, com dislexia e outros tenham
acesso aos conteúdos escolares, no mesmo tempo em que o restante da turma;
-
permitir que todas as ilustrações, imagens, figuras, mapas, desenhos e demais
configurações bidimensionais, presentes nos livros didáticos, fichas de
exercícios, provas, comunicados aos pais, cartazes, circulares internas etc.
também sejam disponibilizados em audiodescrição;
-
zelar pela autonomia, empoderamento e independência dos alunos com deficiência
visual e outros usuários do recurso;
-
atentar para a descrição de objetos que fazem parte do cotidiano escolar, como
a disposição do mobiliário da sala de aula, da planta baixa da escola, da
distribuição do acervo na biblioteca, dos espaços de recreação e outros
ambientes e produtos de uso comum etc.;
-
perceber a transversalidade do recurso, por exemplo, ao estimular que, com uso
de uma atividade coletiva de audiodescrição, durante uma aula de matemática ou
de ciências, os alunos possam desenvolver descrições por escrito, de tal sorte
que as informações ali contidas possam ser aproveitadas nas aulas de língua
portuguesa;
-
considerar a importância de democratizar as informações e conhecimentos
construídos em sala de aula para toda a comunidade escolar, oferecendo aquele
recurso em exposições, mostras, feiras de ciências, apresentações, reuniões de
pais e mestres, encontros pedagógicos, aulas de reforço escolar, excursões
temáticas, jogos e olimpíadas esportivas, exibição de filmes e nos demais
encontros e atividades cuja educação seja o foco;
-
reforçar o respeito pela diversidade humana, praticando e divulgando ações de
cunho acessível entre os alunos com e sem deficiência;
-
atrair parceiros que possam financiar projetos de acessibilidade na escola e a
partir dela;
-
criar programas e projetos de voluntariado e monitoria que envolvam o público
interno da instituição e a comunidade escolar, a fim de capacitar os
interessados na temática da audiodescrição e levar adiante outras iniciativas
de acessibilidade;
-
promover encontros de formação, reflexão e sensibilização sobre a inclusão
social das pessoas com deficiência para professores, funcionários, gestores,
alunos e comunidade, fortalecendo a máxima de que a inclusão só poderá ser
construída por intermédio da perpetuação de práticas acessíveis, ou seja, a
partir da eliminação de barreiras, tais como as atitudinais e aquelas presentes
nos meios de comunicação.
Cientes
de que a tarefa de educar na perspectiva inclusiva exige, antes de tudo, a
crença irrestrita na capacidade humana de aprender sempre, ainda que em ritmos
e de maneiras diferentes, acreditamos que todo educador, atuando em qualquer
modalidade da educação básica, seja capaz de incorporar à sua prática docente a
utilização de tecnologias assistivas.
E,
sendo a audiodescrição uma dessas tecnologias, conclamamos a todos os
educadores comprometidos com a proposta de educar pessoas, independentemente de
rótulos ou estigmas, a estudar a sério o potencial dessa enriquecedora ferramenta
pedagógica, na certeza de que os lucros advindos desse investimento, para além
do enriquecimento na própria formação docente, também implicarão a resposta
positiva dos educandos com deficiência, incluídos e verdadeiramente atuantes.
Lívia Couto Guedes possui licenciatura plena em
pedagogia, com habilitação em administração escolar e mestrado em educação pela
Universidade Federal de Pernambuco - Ufpe (2004 e 2007, respectivamente). É
estudiosa das questões relacionadas à inclusão social de pessoas com
deficiência, com ênfase no enfoque educacional e escolar. É audiodescritora,
atuando na promoção de acessibilidade comunicacional para a pessoa cega e com
baixa visão por meio da construção e narração de roteiros acessíveis.
Atualmente, é professora substituta da Ufpe, lotada no Colégio de Aplicação, no
qual leciona a disciplina de pesquisa no ensino fundamental e integra o Serviço
de Orientação e Experimentação Pedagógica.
Lívia Couto Guedes
Fonte:
Revista Nacional de Tecnologia Assistiva